Sábado, 20 de Outubro de 2007

Atenção quando "Não dou autógrafos" (2/3)

"Tenho pena de não conseguir comprimir emoções em frases sucintas e curtas mas ao mesmo tempo longas o suficiente para serem decifráveis por quem as devia entender."

No outro dia calhou ler algo que a Jonas escreveu acerca do que sente em relação à poesia.

Acho engraçado o quão parecido é o que sinto em relação a isso.

Não digo que seja sistemático, mas atrever-me-ia a dizer que a poesia, sem musica ou sem uma atmosfera ou contexto que a ampare, geralmente soa-me a comer pó de café à colherada... sem água quente nem açúcar... só o café... a seco.

Digo "geralmente" porque raras são as excepções, tão raras que não me lembro de nenhuma agora, mas tenho a certeza que já as vi ou ouvi.


A Jonas conta uma história que se passou entre ela, quando criança, e o poeta Alexandre O'Neill.

O que se passou poderia ter-se passado com qualquer outra figura "publica", com qualquer outra criança.

Coisas tão especificas como o que se passou com a Jonas, até coisas tão triviais como o que aconteceu com a Sílvia Alberto e um pequeno grupo de miúdas dos seus 13 a 15 anos, que calhou seguir o mesmo caminho desta, e que enquanto andavam na mesma direcção, iam comentando entre elas, quem era e quanto era engraçado estarem a ver ali na rua, ao vivo e tão próximo, alguém que só tinham visto na TV.

A certa altura a Sílvia virou-se para elas num tom de voz nada simpático (ou seja, nada condizente com a imagem que nos transmite pelos ecrãs, logo a imagem que as miúdas tinham dela) e enxotou-as dizendo que não era nenhuma educadora de infância para ter uma creche a segui-la.

Claro que ninguém é de ferro, e está no seu direito de dizer o que lhe apetece a quem lhe apetece, mas... há que assumir a responsabilidade das escolhas que se fazem na vida.

Se alguém escolhe ser médico, é isso que se é: médico. O ser-se médico não é uma profissão mas sim um modo de vida.

Ser-se poeta, músico, soldado ou agente da autoridade, são tudo modos de vida e não profissões.

Ser-se figura pública também é um modo de vida.

Lidar com essa entidade nublosa, sem face, chamada "público" tem as suas regras, técnicas, procedimentos e cuidados.

Lidar com os "átomos" ou elementos que constituem esse grupo, também tem regras e cuidados. ...isto se se pretende ter alguma consideração pela tal entidade maior, chamada "público".

Há que arcar com as consequências das nossas escolhas em termos de modo de vida.

Tal como é fácil atingir pela positiva dezenas, centenas, milhares, milhões de indivíduos incógnitos, também é fácil atingir pela negativa alguns deles de forma mais marcante do que o esperado. E... esses "átomos" trocam ideias e falam entre si.

6 graus após, a "estrela" perde o brilho para parte desse público. Joga a favor a classificação de ser apenas "diz que disse" que serve para atenuar um pouco o efeito negativo, mas a duvida instala-se, com ou sem fundamento.

Ao ler o que a Jonas escreveu acerca da atitude do poeta Alexandre O'Neill para com um pedido educado e natural (para alguns) duma criança, fiquei com vontade de dizer algo sobre isso.

Penso que ninguém está livre de desiludir os outros quando tenta seguir um principio, uma convicção, uma promessa ou algo que se tenha decidido a fazer por regra.

O facto de isto ter acontecido com uma criança que o pedia educadamente, num local calmo sem grandes confusões, poderia ter sido uma excelente oportunidade para abrir uma grande e feliz excepção... que não veio a acontecer.

Pode ter sido apenas um infeliz acaso... daqueles que demoram fracções de segundo a acontecer e que, para mentes distraidas, frias, teimosas e/ou orgulhosas, não há como voltar atrás (nos casos em que é possível reparar o erro, claro).

Pode também ter sido apenas o espelho de alguém amargo com tudo e com todos, incluindo crianças educadas.

Acções insignificantes (inconscientes ou não) feitas por uns, podem ter efeitos devastadores para outros.

O simples acto de dar-mos um passo, pode acabar com a vida de uma formiga. Formiga que, antes desse acto simples e natural para quem anda, existia neste mundo e que depois deixou de existir, com a triste agravante de ninguém ter dado por isso.
sinto-me:
publicado por Koshdukai às 00:01
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